Educação Infantil II
Por Demétrius Pecoraro
1. Teorias do desenvolvimento humano e as experiências de aprendizagem das crianças de 0 à 6 anos
Pedagogia
da infância
Segundo Malaguzzi, as crianças são sujeitos competentes, que pensam, que têm
expectativas, desejos e motivações. Por isso que elas precisam ser incentivadas
a se expressarem de diversas formas e por meio de várias linguagens;
Rotina
da educação infantil
É preciso oferecer para as crianças muitas oportunidades e diversas experiências que auxiliem e contribuam para o seu desenvolvimento;
DCNEI (Diretrizes curriculares Nacionais de Educação Infantil)
▪ criança: sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivência, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura;
▪ instituição de educação infantil: primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não doméstico e que se constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados, que educam e cuidam de crianças de 0 à 5 anos e 11 meses, no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social;
Concepções do desenvolvimento da
criança
1) Concepção inatista
Autor representante: Froebel
"As crianças são como sementes e os
professores os jardineiros, que cuidam para que elas desabrochem."
(criador do jardim de infância)
▪ determinada por fatores biológicos que se encontrariam prontos ao nascer;
▪ ser humano nasce com dons que vão florescer no decorrer da vida;
▪ professor favorece o desabrochar (para alguns autores o professor deve
esperar pelo momento "certo" da criança se desenvolver, para outros
não seria bem assim);
▪ infância é o vir a ser, insuficiente e incompleta (é como se a criança fosse
"insuficiente"e não plena em sua capacidade);
2) Concepção Ambientalista
Autor representante: John Locke
"A criança como uma tábula rasa,
apenas um papel em branco, ou uma cera a ser moldada e formatada como bem se
entender." (ideia de que o adulto e o ambiente moldam)
▪ o meio tem preponderância sobre o sujeito;
▪ sujeito como tábula rasa (como um papel em branco e o ambiente aos poucos
imprimirá todas as marcas nessa criança);
▪ todo o conhecimento começaria na experiência sensorial (o meio forma o
sujeito);
▪ o conhecimento está no mundo, nas coisas;
▪ professor é o que estimula precocemente, o que corrige e favorece o
desabrochar;
▪ infância é o vir a ser também;
3)
Concepção i interacionista
Autor representante: Lev Vygotsky
"Nós não nascemos homens, nós nos
formamos homens." (é com o tempo que nos constituímos como homens)
▪ os fatores biológicos e sociais são indissociáveis e se influenciam
mutuamente;
▪ o sujeito modifica o mundo e é modificado por ele (não nasce pronto nem é
moldado pelo ambiente, mas se constitui ao longo da sua trajetória humana e
experiências);
▪ a instituição (escola) é importante para o desenvolvimento e aprendizagem das
crianças;
▪ o conhecimento é um processo de construção lenta e gradual;
▪ professor é o que conhece as teorias e as crianças, sendo assim planeja
situações de aprendizagem;
▪ infância é um rico período de aprendizagem;
O papel da escola Henri Wallon
A criança não é o resultado linear ao meio do qual ela vive, pois Wallon
enfatiza a ideia de que a criança vive em vários meios (como família, escolar,
e também os meios não concretos, como os valores e cultura), às vezes até
conflitantes entre si, e que sua construção se dará justamente na relação com
esses diversos meios (ambiente) e a escolha de priorização que definem essa
construção do sujeito. Essa definição quebra a ideia de que a criança é o resultado linear do seu meio
familiar, atribuindo assim a família a responsabilidade das condutas dessa
criança na escola. É claro que o contexto familiar interfere fortemente na
história de vida e relações da criança, no entanto a escola ao se constituir
como um outro contexto de desenvolvimento ela pode criar outras relações com a
criança que diferenciem se das relações familiares.
A criança traz o contexto familiar
mas não se limita a isso, porque faz parte dos potenciais do sujeito articular
se diferentemente aos diversos contextos nos quais ele está inserido.
Assim se desfaz a suposição da escola de que para ela ter êxito na sua tarefa
educativa, ela precisa ter uma total sintonia com a educação familiar. A escola tem a possibilidade de proporcionar para criança um outro contexto e
possibilitando que ela ocupe lugares diferentes aos do ambiente familiar. Por
exemplo, uma determinada criança é o filho do meio na família, que tem uma
relação específica com pai, mãe e irmãos, já na escola essa criança viverá
outra realidade, podendo ser o aluno bom em matemática e com dificuldades em
português, pode escolher o grupo de amigos numa situação X e com outros numa
situação Y.
A escola oferece uma diferenciação de ambientes e lugares para a criança e este
é o potencial do convívio em um novo ambiente fora da família, e isto enriquece
muito mais o desenvolvimento da criança. Por isso a escola precisa corresponder a demanda social, onde o direito à
educação é para todos, independente da classe social ou cultural, uma educação
coletiva e ao mesmo tempo uma educação para cada um, respeitando as
particularidades de cada sujeito.
2. O
brincar na educação infantil
A
importância do brincar na educação infantil é central, segundo as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI), que atribuem a brincadeira
e a interação como eixo norteador de todas as práticas pedagógicas da educação
infantil.
Na perspectiva da psicologia histórico cultural o brincar é uma condição para
criança desenvolver a imaginação, a atenção, concentração, controle da própria
conduta, por isso é fundamental que a escola da infância propicie condições
para criança brincar e se desenvolver. O brincar não é inato (ou seja, a criança não nasce sabendo brincar), pois
brincar é uma prática social e que implica em um aprendizado que acontece na
relação com as pessoas, mediadas por um cultura (motivo pelo qual se diz
que o brincar é cultural e não inato). O brincar é da natureza humana, logo
está presente e mediado em todas as culturas.
Sendo
que cada cultura tem suas especificidades, por exemplo, uma sociedade de
cultura indígena, metropolitana ou rural, as infâncias serão diferentes, como a
construção das brincadeiras também e se darão das relações dessas pessoas e sua
cultura.
Por isso a importância que o educador leve em conta o espaço onde ele e as
crianças estão inseridos, reconheça essa cultura para desenvolver as
brincadeiras com essas crianças. Hoje em dia existem diversos recursos tecnológicos usados para a brincadeira,
levando em conta que o brincar se faz presente em todas as culturas, entende
se que o meio tecnológico voltado para brincadeira é um bem cultural.
Há o receio no uso desse tipo de recurso com as crianças, mas é preciso
reconhecer a tecnologia é uma produção humana, e por sua vez, um bem cultural,
do qual as crianças têm direito ao acesso.
Claro que deve haver cuidados para o uso dessas brincadeiras tecnológicas
(virtuais), como que valores e tipos de conhecimentos essa brincadeira oferece,
e o tempo que essas crianças ficarão expostas a esse tipo de brincadeira, para
que não seja algo excessivo que acabe limitando essas crianças ao conhecimento
e desenvolvimento de outras culturas (formas de brincar). Usar para ampliar
repertório de brincadeiras sem alienar essa criança. As brincadeiras são fortemente ligadas a exploração dos corpos, a ação e
interação gerada por meio do brincar. Por isso que é importante essas
atividades para que não ocorra o que chamamos de "analfabetismo
motor", que nada mais é que a contenção e privação da criança ao brincar.
A escola precisa romper com a tradição de querer separar corpo e mente no
ambiente escolar, como se isso fosse possível. Isso ocorre quando cobra e
impõem se demais que a criança seja comportada, quieta e contida. A brincadeira
vem para romper com essa "tradição escolar" e faz com a criança
esteja por inteira (corpo e mente) no ato do brincar.
Por isso há uma gama de brincadeiras e atividades que específicas que trabalham
os movimentos corporais das crianças, como a pisco motricidade, que cuidam mais
da expressão corporal, pois o que não pode haver é a separação entre corpo e
intelecto.
A brincadeira com o corpo contribui também para que a criança trabalhe sua
identidade, se reconheça e se auto afirme a partir dessa atividade com o corpo.
Em toda e qualquer brincadeira há uma apropriação de cultura e produção de
cultura, por isso a brincadeira desenvolvida dentro do ambiente escolar difere
da brincadeira ambiente familiar (embora seja igualmente rico para a criança),
pois na escola essa brincadeira é mediada pelos profissionais, no caso os
professores. Esse brincar aplicado na escola pelo educador é planejado no
intuito de organização de espaço, o tempo, a sistemática, a intencionalidade
dessas para brincadeiras. Nesse momento ocorre a intervenção pedagógica do
profissional na observação das potencialidades dessas crianças durante a
brincadeira, que as colocam como sujeitos, agentes e protagonistas dessa ação.
"Porém reconheço a riqueza da brincadeira
informal entre amigos e vizinhos do bairro, pois segundo um estudo na década de
40 do professor Florestan Fernandes, ele observou que essas crianças ao se
reunirem para brincar na rua do bairro entre vizinhos, nesse processo que elas
desenvolviam entre si, foi denominado por ele como cultura infantil. Ele
percebeu que aquele era um grupo social pois tinha uma organização própria e
específica, e nessa dinâmica havia uma produção de cultura, por isso eu não
vejo a escola como um espaço único e total de desenvolvimento da criança no ato
de brincar."
(Prof. Célia Regina Serrão)
As
brincadeiras pensadas para o dia a dia de uma creche seria criar o cenário rico
de possibilidades e objetos que convidem essa criança a agirem, com objetos que
elas possam tocar, tridimensionais, que façam barulho e assim possam vivência e
experimentar diversas sensações, direcionadas a crianças na faixa etária de 0 à
3 anos.
Já na pré escola, que englobam crianças de 3 à 5 anos, o "faz de
conta" é a grande brincadeira. Organizando o tempo, espaço e os materiais
que alimentem a imaginação e o faz de conta dessas crianças, com objetos não
estruturados que ela possa imagina lo e transforma lo em algo que atenda aquilo
que sua imaginação constrói ou imagina. Esse processo é extremamente importante
no desenvolvimento dessas crianças. E também fazer uso dos jogos de regras como uma forma de diversidade no dia a
dia da pré escola.
No que diz respeito às questões de gênero e étnico racial, é preciso haver uma
reflexão, diálogo, a escuta, o estudo e a relação com a família, e observar o
ambiente e os objetos das brincadeiras, visando compreender de que forma ele
contribui para o desenvolvimento e vida social dessa criança. Pois temos uma
sociedade racista, sexista, heteronormativa e que vivemos um momento de romper
com esses valores e concepções, porém não ocorrerá do dia pra noite, é um
processo longo que precisa ser debatido e colocado desde a educação infantil
até o ensino superior. Nesse processo todo de brincadeiras, desenvolvimento e relação família e
escola, os registros dessas atividades são de extrema importância, pois permite
ao professor avaliar, refletir, planejar e replanejar. E os recursos para esses
registros são diversos, como fotos, vídeos e os relatórios escritos. Por isso
deve haver uma seleção desses recursos para que os registros sejam referência
de reflexão ao processo formativo (da criança como do professor) e se torne uma
memória do grupo e da família.
E seria importante que nesse processo de registro e documentação a criança
participe, pois ela tem muito que dizer sobre seu mundo, seu modo de vida, o
que faz na escola com seus colegas, o que gosta e o que não gosta. Tornando
assim esse registro mais fiel possível.
Esse registro deve servir para uma reflexão pedagógica e estar em diálogo com a família, com o corpo docente e com as próprias crianças. Para isso é preciso exercitar a escuta e o registro imediato da fala das crianças e o momento de sistematizar esses registros por meio da reflexão.
3. Proposta pedagógica: definição, elaboração, implementação e avaliação
As propostas pedagógicas são baseadas nos seguintes ordenamentos legais presentes na LDB 9393/96:
▪ Artigo 12, "os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns
e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
Parágrafo I - elaborar e executar sua proposta pedagógica [...];
▪ Artigo 13, "os docentes incumbir-se-ão de:
Parágrafo I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino [...]A elaboração da proposta pedagógica é um dever de todos os professores que
fazem parte das instruções de ensino.O objetivo da proposta pedagógica segundo DCNEI (Diretrizes curriculares
Nacionais de Educação Infantil);
▪ a proposta pedagógica das instituições de educação infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças;
Como elaborar uma proposta pedagógica?
Qual seu objetivo?
A quem se destina?
Por quem é elaborada?
Que tipo de documento será elaborado?
O grupo de docentes, coordenação e direção da escola precisam ter bastante clareza qual é o objetivo dessa proposta. Que se destinará a tratar sobre as crianças, pensando nas alterações mudanças, a melhoria na instituição, a relação com a comunidade, pensar no estreitamento de vínculo entre o ensino infantil e o fundamental. Essas ideias serão elaboradas por todos os professores da instituição, demais funcionários da escola e também com a participação das famílias. Que resultará em um documento escrito que registre a trajetória das ideias discutidas e elaboradas. Como será desenvolvido esse documento é critério de cada escola, seja durante as reuniões do HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo), reuniões extras ou até mesmo com a comunidade. A escola precisa criar estratégias que permitam de fato a participação e envolvimento dos diversos sujeitos.
Pontos
importantes na elaboração deste documento
▪ Unidade: embora as escolas são constituídas de diversas pessoas com
concepções diferentes, é preciso haver uma unidade na definição de algumas
questões para que haja uma educação de qualidade;
▪ Sistematicidade: onde normas são de comum acordo de todos, sendo seguidas em
qualquer ocasião que se faça necessária;
▪ Consciência e compromisso: a proposta pedagógica não é um documento para ser
guardado dentro da gaveta ou simplesmente para prestar contas a supervisão
escolar, ela é o documento norteador das práticas cotidianas da instituição. Por
isso a importância de que todos os envolvidos na elaboração de tal documento
tenham consciência e compromisso de sua responsabilidade;
▪ Participação e envolvimento de todos;
▪ Contextualização: não existe uma fórmula para tal proposta pedagógica, visto
que cada escola é única e deve se levar em consideração seu contexto que
precisa ser levado em conta;
▪ Coerência e consistência: pois essa proposta é fruto daquilo que entendemos
como merecedor de estudo, investimento e dedicação, como aquilo que também podemos
e queremos modificar na prática pedagógica diária;
▪ Provisória e dinâmica: pois ao criarmos alvos e objetivos e os alcançamos,
logo novos surgirão;
Quais elementos constituem uma Proposta
pedagógica▪ história da instituição e de suas propostas pedagógicas;
▪ contexto sociocultural no qual a instituição se insere (condições sociais das
crianças e famílias, o bairro, serviços, acessos, histórico dos professores,
etc.);
▪ concepções norteadoras do trabalho (o que se pensa sobre criança, infância, ambientes
e salas de referência;
Concepção de proposta pedagógica (DCNEI)
▪ Oferecer condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos
civis, humanos e sociais;
▪ Assumir a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias;
▪ Possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre adultos, quanto a ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas;
▪ Promover a igualdade de oportunidades educacionais entre crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância;
▪ Construir novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico racial, de gênero, regional, linguística e religiosa;
Finalidades e objetivos
▪ organização e gestão do trabalho;
▪ o currículo (o tempo, o espaço e o material);
▪ as crianças;
▪ as metodologias de trabalho;
▪ os instrumentos de trabalho do professor;
▪ os professores e suas condições de trabalho;
▪ as relações com a comunidade e com as famílias;
▪ a articulação da educação infantil e ensino fundamental;
4. Organização do trabalho pedagógico: planejamento, observação e registro
"O diferencial de uma instituição de educação infantil é a observação e escuta atenta dos professores, que pensam seus planejamentos a partir dos desejos, interesses e necessidades dos bebês e das crianças pequenas." (C.E.I - Centro de Educação Infantil Teotônio Vilela/SP)
O cotidiano da educação infantil é surpreendente, pois a todo momento as crianças estão brincando, interagindo, conversando e fazendo muitas descobertas, por isso é fundamental que o professor observe como as crianças brincam, o que elas fazem e o que estão falando, pois elas levantam hipóteses e realizam descobertas.
Sendo assim a criança sempre está disposta a aprender e tem no professor um parceiro experiente. Ao observar se colhe diversas informações a respeito das crianças. Dar voz a criança é um direito inato. Para isso é importante que se crie e desenvolvam oportunidades de maneira que as crianças se manifestem do jeito que elas querem, que possam fazer perguntas e a partir dessa perguntas, professor e criança, possam buscar o porquê daquilo. O registro das atividades devem ter como personagem central as crianças e as atividades como coadjuvantes que permitem às crianças expressarem seus desejos e talentos. E a partir desses registros é possível maior e melhor reflexão sobre o que foi aplicado, como também em atividades futuras.
"O CEI Antônio Vilela apresenta como objetivo no seu projeto político pedagógico a vivência plena da infância por meio da pedagogia de projetos. Concebendo a criança como um ser capaz e protagonista de suas ações. A autonomia das crianças, a livre escolha e fim dos tempos de espera, estão presentes no cotidiano. A observação e a escuta atenta das crianças e o registro do cotidiano alimenta o planejamento dos espaços e dos materiais das brincadeiras."