Didática
por Demétrius Pecoraro
1. O que é didática
▪ vem do grego: didasko = ensinar/instruir;
▪ é a arte de transmitir conhecimentos, técnica de ensinar, ou seja, uma especialidade e aprendizagem para ser estudada e aplicada. (Segundo o dicionário Houaiss - séculos XX - XXI);
▪ disciplina, método universal, que busca a eficácia dos meios de ensinar. (Século XVII);
▪ tornou se recentemente uma área das ciências da educação/pedagogia. (motivo pelo qual faz parte da grade curricular no curso de Licenciatura em Pedagogia);
▪ noção do senso comum, ou seja, todos reconhecem o que é didática apenas com a observação na maneira ou técnica de ensinar e explicar um conteúdo de um determinado professor (a);
Didática é um jeito de fazer, uma mediação pedagógica que pressupõe a aprendizagem. Está também ligada à conquista em conseguir atrair a atenção e o interesse do aluno pelo o que está sendo ensinado.
A palavra didática é moderna no sentido de referir se a uma dimensão do ensino/aprendizagem e é também uma parte da teoria da educação e da pedagogia.
Didática vem do grego - téchne (arte) didaktiké (ensinar) - que se traduz a arte de ensinar. Pois na Grécia antiga concebia se a ideia de algumas pessoas tinham em sua alma o "dom" de ensinar.
A pedagogia moderna de Jan Amos Comenius é a ruptura dessa ideia, pois ela diz que não temos o "dom" de ensinar mas sim, no curso de pedagogia deve existir uma parte chamada didática, que é a teoria e prática do ensino, que é a arte de ensino tudo a todos.
2. O aluno e o saber
Prof.º Bernard Charlot (UFS)
Prof.ª Selma Garrido Pimenta (USP)
A criança é um ser incompleto que se torna um ser humano singular e ao mesmo tempo universal, membro de uma sociedade e de uma cultura, através do aprendizado, que foi criado pelas gerações anteriores. Esse processo incluiu muita coisa como aprender a andar, falar, nadar, a se relacionar com os outros e também aprender português, matemática, história, geografia, ciências e assim por diante.
A aluno só aprende se tiver uma atividade intelectual e se mobiliza para isso, ou seja, estudar. E o professor sabe disso, se o aluno estuda, ele tem grandes possibilidades de aprender.
A criança tem que entender e sentir o porquê daquele aprendizado e conhecimento, o prazer pelo saber. E o professor precisa estar atento por que existem aqueles alunos que aprendem e outros não.
O gosto pelo estudo não está relacionado a classe social, pois existem indivíduos de classe média que não estudam, em contra partida indivíduos mais carentes estudam pelo fato de terem uma vida difícil e veem na educação uma forma de melhora de vida.
O papel da escola é trazer a experiência de vida de cada aluno para o contexto escolar e transforma la em saber.
E muito dessas atitudes estão diretamente ligadas à didática. A forma com que o professor articula sua maneira de ensinar.
A didática é um convite permanente da reflexão do professor em relação a suas teorias e saberes, para que ele se coloque na condição de mediador reflexivo entre a criança, jovem ou adulto que estão em processo de formação e de construção desse mundo e sociedade a qual estão inseridos.O professor tem que ressaltar a importância do que se está aprendendo. Como a gramática que é importante por causa da linguagem, matemática que ensina as quatros operações e a resolver problemas, história para que se conheça o passado e que marcaram a espécie humana, porém nem tudo é útil para a nossa vida, apenas importantes em um determinado momento.
Por isso o aluno precisa encontrar o prazer de ir à escola e para isso o conhecimento tem que cativar e prender sua atenção.
Que não seja o único prazer do aluno e do ser humano ser inteligente. Ele tem que sentir prazer em aprender."Bernard Charlot concorda com Bourdie que o fracasso escolar e as desigualdades sociais estão correlacionada, mas para ele só está explicação é incompleta e mistificadora".
O que é a relação pedagógica?
▪ relação interpessoal - internacional que envolve o professor, cada aluno, os alunos entre si, o conhecimento (a razão de ser do ensino) e as relações institucionais da escola (as regras impostas pela escola);
Espaço da relação pedagógica
▪ a sala de aula representa esse espaço, onde ocorrem os encontros de subjetividades (experiências diferentes) e pontos de vista;
Onde se criam os vínculos:
▪ quais são os vínculos entre alunos?
▪ quais são os vínculos do professor com os alunos?
▪ quais são os vínculos do professor e dos alunos com os conhecimentos?
Quando os vínculos são positivos dizemos que é uma sala disciplinada, caso sejam negativos diz então ser uma sala indisciplinada. Cabendo ao professor estar atento a isso e interferir para que essa relação seja melhorada e positiva;
Peculiaridades da relação pedagógica
▪ ser temporária (ligada aquele momento de aprendizagem);
▪ ser assimétrica (o professor não é um colega de classe);
▪ implica em autoridade e disciplina (a representação do professor como autoridade em relação ao conhecimento a ser transmitido e um organizador do ambiente, e não repressão);
▪ assumir múltiplas possibilidades ao longo do tempo;
Papel do professor: gestão (gerir)
▪ de relações humanas entre alunos;
▪ da aprendizagem dos alunos;
▪ da relação dos alunos com o conhecimento;Suas ferramentas para ensinar = didática▪ sensibilidade;
▪ afeto;
▪ saber teórico prático;
▪ habilidade artesanal de reunir diferentes conhecimentos para agir;
▪ planejamento;
Relação pedagógica
Prof.ª Maria Teresa Eglér Mantoan (UNICAMP)Todo processo de ensinar como aprender é extremamente "misterioso", pois o que se passa no momento em que alguém ensina e o outro quer aprender o que está sendo ensinado, vai muito além do que podemos planejar ou prever, existem detalhes que escapam do nosso controle.Didática não tem a ver exclusivamente com como ensinar, mas para que e porque estamos ensinando. Não é apenas conteúdo, mas sim, a relação professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno. Ou seja, em um determinado momento, mas proposição de um tema ou solução de um problema, todos possam participar e interagir na resolução e com o objetivo de aprender.
É muito importante que o professor tenha consciência e compreensão de que ele precisa interferir no desenvolvimento psicológico da criança, adolescente, jovem e adulto e possa conduzir esse processo de aprendizagem.
O processo de ensino é relacional, ele existe na relação professor-aluno, por isso não é prudente ter o aluno como o centro de todo esse processo. Pois o ensinar ocorre por meio de troca, ao mesmo tempo que ensina se aprende. É preciso valorizar o que aluno sabe e mostrar que o conhecimento do professor é importante para ele.Como dizia Celestin Freinet:
"A sala de aula tem que ser como uma canteiro de obras onde todos estão construindo, cada um tem suas possibilidades, que são usadas nessa construção conjunta. Existe um plano e esse plano é discutido e idealizado por alguns, mas que precisa ser compartilhado aos que estão construindo para que um não faça o que não é de sua competência, mas sim, que essas competências se completem durante o processo de construção."
Embora exista um roteiro de ensino planejado pelo professor, ele não precisa ser imposto necessariamente, pois o que existe é um roteiro cognitivo político pedagógico pronto e que precisa da participação do aluno para acontecer (ganhar vida). O professor estará sempre em negociação com o planejamento semanal e os alunos o tempo inteiro. Como os alunos reagem, recebem e respondem ao conteúdo levado e aplicado em sala de aula, isso determina o resultado esperado ao roteiro que foi planejado. Porque se o aluno não "entra no jogo", não participa e reage de forma positiva e satisfatória ao conteúdo proposto, não acontece o que chamamos de "construir" ao aula.
Conclusão, no processo de ensino e aprendizagem, o centro não é o aluno nem o professor e sim a relação estabelecida entre ambos.O aluno tem o olhar perspicaz e rápido muitas das vezes e o professor precisa saber encaminhar a busca da resposta. Pois o professor não precisa saber "tudo" e nem demonstrar ao aluno essa condição, mas sim, fazer com que o aluno busque as maneiras de chegar às suas respostas e conclusões.Deve haver um planejamento da aula e dos recursos para que essa aula tenha a qualidade desejada e que o sujeito possa aprender.Ensinar é algo que foge aos padrões de outras atividades humanas pois nunca se tem consciência da contra partida, isso enobrece a atividade de um lado e do outro lado também, para aqueles que de fato entenderam o que foi ensinado, dando a sensação de que é preciso superar a intenção marcada de fazer com que as pessoas, pelo "poder" de ensinar, aprendam aquilo que queremos e consigam dominar o que achamos importante.
A aula é boa quando o aluno aprende. Por isso dizer que um professor dá "boas aulas" ou "ensina melhor" pode ser relativo.
Por exemplo, um professor de matemática precisa saber avaliar a contribuição que o aluno possa trazer a sala de aula, que conhecimentos prévios ele tem sobre o assunto a ser aplicado, para que ele possa transformar todas essas possibilidades que existem em um conteúdo qualitativo e com resultados positivos e satisfatórios.
Pois o processo de aprendizagem está baseado na relação aluno-professor-conhecimento, e cabe ao professor conduzir essa relação da melhor forma possível.
A didática ajuda o professor na forma de ver e construir relações entre o conteúdo que ele tem responsabilidade social de aplicar e o interesse dos alunos.
3. A sala de aula
A aula é o espaço no qual se configura a relação pedagógica, é o núcleo da atividade relacionada ao saber - que pode ser transportada para fora do ambiente da sala de aula propriamente dita, transformando qualquer local para que a aula aconteça.
É na aula que a instituição escolar se funda, que o professor e o aluno desenvolvem seu papel e é onde se configura a relação pedagógica. Tanto o ensino quanto a aprendizagem são atividades relacionadas, nas quais estão envolvidos o professor, o aluno e o conhecimento, e o espaço onde se dá essa relação é a aula. (Univesp)
A aula - O ato pedagógico em si
É comum encontrarmos os alunos dentro da sala, que é o local mais provável e determinado, para que eles aprendam. Porém os alunos podem expandir esse conhecimento também fora dessas quatro paredes, que são as salas de aula.
A sala de aula é o lugar da educação formal e ela pode ser no pátio, em uma tenda, nos corredores, em um bosque, parque, zoológico enfim, a gente "cria" uma sala de aula onde se possa realizar a linda história do aprender e ensinar.Pois a sala de aula está em um contexto chamado escola, e ela cada vez mais deve se tornar um espaço de ensino e aprendizagem com possibilidades que ampliem essa relação da sala de aula. Pois quando o aluno sai das limitações da escola/sala de aula para um passeio ou visita em campo, ele também tem muitas chances de aprender, logo esse "espaço" improvisado se torna também uma sala de aula.
É preciso identificar qual a diferença de aprender fora e dentro da sala de aula, que segundo alguns relatam, a diferença está em poder ver e vivenciar aquilo que foi dito e aprendido em sala de aula.A aula sem uma pauta do conhecimento que deve ser aplicado é apenas um encontro lúdico ou onde o professor relate suas experiências que podem trazer algum conhecimento. Pois a aula terá sempre a perspectiva e a finalidade de ensino aprendizagem. Porém é o professor que pode tornar a transmissão desse conhecimento agradável ou não, de forma que atraia o interesse do aluno.Ao partir para uma aula fora das paredes de uma sala de aula, o professor tem que estar preparado e saber lidar com tudo que poderá acontecer e que foge do seu controle, porém ele precisa usar da autenticidade com seus alunos e expressar também a possibilidade dele como professor aprender junto com essa nova experiência. Sempre será produtivo qualquer tipo de experiência que saia um pouco do seu planejamento, desde que isso traga conhecimento. A lousa e o giz não são condições sine qua non (*) para se dar a aprendizagem e o ensino, alguns outros recursos são condições sine qua non, as vezes se valoriza demais algo que não é o "personagem principal" da história (a aula e o ensinar), e sim um coadjuvante.
Ou seja, podemos ensinar seja lá qual for a maneira, local ou recurso pois o ato importante e principal é ensinar. As escolas tem mudado desde que foi criada, pode se fazer várias leituras sobre essas mudanças pontuais, como o uso obrigatório de uniformes padronizados ou as carteiras fixas de cada aluno, coisas que hoje quase não se vê mais. Esse ponto em particular das carteiras não serem mais fixas e delimitadas, permitem uma nova perspectiva da didática que é o de aprender com o outro, em grupo. Não sendo então apenas uma mudança física, mas sim, um projeto pedagógico.
Pode se caracterizar: "Grupo quando um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes se reúnem em torno de uma tarefa específica, no cumprimento do desenvolvimento das tarefas deixam de ser um amontoado de indivíduos, para cada um assumir se enquanto participante de um grupo com objetivo mútuo."
(O que é um grupo - Madalena Freire)
O trabalho faz com que a criança aprenda a socializar, embora alguns pensem que esse tipo de atividade propícia mais bagunça, mas o que seria de fato essa "bagunça"? Será que só é possível aprender ficando só e passivo em frente a um livro ou em uma carteira fixa!?
É preciso sim saber administrar bem o trabalho em grupo, para que dele resulte um resultado positivo. É trabalhar um conhecimento de maneira que os alunos consigam estabelecer relações, isso é aula, é aprendizagem.Uma aula considerada mais progressista é aquela que eu trago elementos que propiciam a criticidade do aluno, a capacidade de reflexão. De maneira geral a situação da educação brasileira, as políticas públicas, elas confinaram o professor a ser mero executor, ele recebe pronta a aula, recebe um roteiro, um livro didático para que ser executado, isto sob o ponto de vista de uma didática progressista é uma catástrofe, pois assim o professor deixa de ser sujeito pensante, crítico e criativo. É muito importante a criatividade do professor em sala de aula.A aula expositiva é considerada tradicional e pode ser um equívoco, pois existem diversas maneiras de se expor um determinado assunto.
Não é o ato de dar aula que a faz tradicional ou não, mas como você aborda a temática e articula a aula de uma maneira crítico social.
Com parede ou sem parede é possível se fazer um ensino de qualidade. A escola não precisa ser recriada, ou se tornar outra "coisa", ela precisa ser reinventada dentro da sua finalidade social.
"A sala de aula é do tamanho do mundo... Ela precisa ser assim para acolher múltiplas aprendizagens... Pois para os alunos uma coisa é ler e ouvir e por outro lado tocar e sentir."
(*) sine qua non = é uma locução adjetiva do latim, que significa "sem a qual não". Faz referência a uma ação ou condição que é indispensável, imprescindível ou essencial;
4. Planejamento - Introdução
O planejamento é um dos temas mais tratados e mais debatidos na Didática. Nosso ponto de partida são indagações feitas cotidianamente por professores quando eles se referem ao trabalho de planejamento. Muitos concordam que, sem um plano, não dá para organizar uma aula. Ela pode facilmente ficar sem rumo, desordenada, ser um verdadeiro fracasso.
De fato, desde quando foram criados, no século XIX, os cursos de formação de professores primários - as chamadas Escolas Normais - ensinaram a organizar a escola e as aulas. Com a ampliação do sistema de ensino no decorrer dos anos, a preocupação com o planejamento acentuou-se e foi se tornando um tópico cada vez mais presente na formação dos professores.
Em meados do século XX, a literatura pedagógica passou a insistir num planejamento tecnicamente detalhado, para treinar os professores e garantir que todo currículo fosse ensinado com eficiência. Mas...
... em que medida um planejamento garante êxito?
... aos professores basta seguir um plano?
A Didática tem mobilizado perguntas como essas ultimamente. Alguns estudos evidenciam os riscos de se tomar a aplicação de técnicas e recursos como o núcleo do ensino. Planejar é importante, não podemos negar, mas o magistério é, sem dúvida, um trabalho mais amplo e complexo.
O planejamento e o trabalho do professor
▪ burocracia?
▪ criatividade? (poucos reconhecem)
▪ mera formalidade? (apenas papel para controle)
▪ estratégia e tática? (como objetivo de atingir as ações de ensino)
▪ contra quem se planeja? (o tempo e o que possa interferir no desenvolvimento do trabalho)
▪ a favor de quem se planeja? (instituição, professor e aluno)
Resulta em planos de ação (documentos)
Objetivos do trabalho docente (alvo do planejamento)
▪ ambíguos: tanto para o conhecimento, habilidades e ambientes sociais e cognitivos;
▪ gerais e ambiciosos: o de formar um cidadão;
▪ heterogêneos: diversos tipos de alunos com suas particularidades em relação ao aprendizado;
▪ longo prazo: é preciso avaliar, rever e propor novas maneiras de ensinar aquilo que o aluno não conseguiu aprender;
Natureza do objeto de trabalho (ensino)
▪humano (lidar com a pessoa);
▪ individual e social (aprender para ser alguém na sociedade);
▪ ativo e capaz de oferecer resistência (o aluno pode apresentar resistência);
▪ comporta uma parcela de indeterminação e de autodeterminação (não se sabe o resultado que será obtido/porém o professor cria meios para que isso ocorra);
▪ complexo (não pode ser reduzido a seus componentes funcionais) - é um conjunto de ações que devem interagir entre si;
Aspectos da relação professor e ensino (onde ele pode se auto avaliar)
▪ multidimensionalidade: profissional, pessoal, jurídica, intersubjetiva, emocional e normativa;
▪ o professor precisa da colaboração do aluno;
▪ o professor nunca pode controlar totalmente seu objeto (aluno);
Aspectos do produto do ensino
▪ o ensino é produto intangível, imaterial (como medi lo e observa lo) - a avaliação é um meio para isso, porém não o único;
▪ o consumo do produto do trabalho não se separa da atividade do trabalhador e do espaço de trabalho (o que foi ensinado e aprendido dentro da sala de aula);
▪ depende do trabalhador (o professor);
"Por isso o planejamento está relacionado com criatividade, estratégias e táticas de ensinar. O planejar contra quem se refere a tudo que possa interferir no trabalho de ensino e a favor de quem seria do ensino e a realização profissional do professor."
(Prof.ª Maria Teresa Van Acker)
O ensino como projeto
Planejamento é em geral mais limitado e padronizado. Um exemplo de planejamento é o diário de classe do professor, onde registra se o dia a dia dos conteúdos aplicados, ensinados e seus objetivos. Ele também prevê alguns resultados, mesmo que nem todos sejam alcançados ele serve como um norteador para o docente. O planejamento envolve a relação do trabalho do professor e o aluno a ser formado;
Projeto é lançar à frente, uma base para o futuro. É uma organização estabelecida para objetivos a serem alcançadas. O projeto é mais amplo, porém ligado a uma determinação da instituição. O planejamento está dentro do projeto, porém é passível de mudança no cotidiano dependendo da devolutiva de cada aluno. Já o projeto é algo que nem sempre pode ser cumprido totalmente.
A LDB 9394/1996 já se refere desde então a projeto como uma base e uma forma de "planejar" o ensino. No projeto é preciso identificar os diferentes níveis, personagens e propósitos:
▪ sistema de ensino
▪ escolas
▪ sala de aula
5. Avaliação da Aprendizagem
"Nenhum país resolverá o problema da educação sem resolver os problemas de avaliação."
"A avaliação é um grande instrumento para os professores e toda a escola em si, porém ainda é um tema muito discutido."Está na lei de diretrizes e bases da educação:
▪ artigo 24. Parágrafo V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; [...]
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos;
Avaliação diagnóstica e contínua, em conjunto com uma avaliação de produção de texto, feita mensalmente, que ajuda o professor a organizar seu planejamento e métodos para auxiliar nas possíveis dificuldades apresentadas pelos alunos.
Porém hoje a avaliação se tornou mais processual e formativa.
A avaliação tradicional é classificatória, ela classifica o aluno bom ou ruim, sabe ou não sabe, gerando uma menção.
A avaliação formativa e processual, permite ser avaliado durante o processo de aprendizagem, onde trabalha se o conteúdo e observa se os avanços dos alunos.
De acordo com a deliberação do Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE) n° 11/1996, "a avaliação escolar assume um papel muito amplo: sua função deve ser essencialmente, na medida que lhe cabe o papel de subsidiar (apoiar) o trabalho pedagógico, redirecionando o processo ensino aprendizagem para sanar dificuldades encontradas na aquisição de conhecimentos, aperfeiçoando a prática escolar. A avaliação assim vista, como um diagnóstico contínuo e dinâmico torna se um instrumento fundamental para repensar e reformular os métodos, os procedimentos e as estratégias de ensino para que realmente o aluno aprenda;"
"Uma avaliação também tem que ser avaliada. Pois se a prova não é boa, não foi bem formulada e nem aplicada, seus resultados podem não refletir os patamares de aprendizagem dos alunos."
(Prof. Ocimar Alavarse - USP)
Ele descreve os tipos de avaliações que hoje pode se encontrar:
▪ Avaliação somativa: é feita ao final do processo, quando o tratamento e ação pedagógica já acabou. Neste caso os resultados devem ser utilizados para julgar o programa desenvolvido e não o aluno (atestando se será aprovado ou não);
▪ Avaliação formativa: é aquela que sendo feita durante o processo de desenvolvimento do programa pedagógico, permite mediante os resultados, que os professores possam rever suas estratégias de ensino, o material pedagógico e assim permitir ações em relação aos alunos, para que eles pudessem atingir os objetivos. Esse tipo de avaliação é um desejo, realidade ela não é no mundo.As escolas tem um discurso favorável à avaliação formativa, no entanto as práticas efetivamente são poucas na sua utilização.
Caminhos e descaminhos da avaliação educacional
O que é avaliação?
"Avaliação é a emissão de um juízo ou julgamento baseado em critérios e para tanto é necessário que informações sejam levantadas. E constituído esse julgamento podem existir consequências."
No ambiente escolar a mais tradicional e mais forte consequência da avaliação é a definição se o aluno será aprovado ou não no final do ano letivo, de forma geral.A escola costuma avaliar seus alunos de várias formas, chamada oral, questionários, provas mensais e bimestrais, exame de recuperação e mesmo assim o aluno não obtém a nota "desejada", o diagnóstico mostra que o aluno não aprendeu, conclusão, ele é reprovado. Diferente do diagnóstico médico, onde é feito o tratamento através de remédios, dietas e métodos para uma possível e desejada recuperação, isso a escola não faz. A escola "condena a morte" o aluno por meio da sua reprovação.
O sistema de reprovação é que não tem sentido na avaliação. No Brasil a avaliação já surgiu com a finalidade de reprovar. Enquanto não for superado o sistema de reprovação não se terá uma avaliação adequada na educação.A escola, principalmente no Brasil, é vista como um tipo de ascensão social e como não é "possível" para todos, ela faz o papel de selecionar os "melhores" e separar dos "piores." Por isso a força que tem a ideia de reprovar o aluno, as vezes até como forma de punição. Por esse ponto de vista a avaliação acaba tendo uma dimensão política, que organiza de certa forma, a vida em sociedade.
A escola deve ser um espaço de aprendizagem para todos e não seria tarefa dela dizer quem são os "melhores ou piores." Avaliação virou sinônimo de exclusão.
A escola deve ser um espaço de aprendizagem para todos e não seria tarefa dela dizer quem são os "melhores ou piores."
Avaliação virou sinônimo de exclusão.Avaliações externas"São as avaliações controladas por instituições que estão fora da escola. E muita das vezes acabam contribuindo e muito para a taxa de exclusão e seleção digamos assim.
Os resultados das avaliações externas deveriam ser usados para melhorar e monitorar o programa pedagógico e não apenas para ranquear escolas, bonificação docente ou simplesmente competição."
A principal avaliação externa feita em larga escala hoje no Brasil é a Prova Brasil, criada em 2005 pelo MEC, a prova avalia as habilidades em língua portuguesa com foco em leitura e matemática focada em resolução de problemas. A prova é aplicada a cada 2 anos em escolas públicas de ensino fundamental de 5° e 9° anos.
Antes da prova Brasil o governo criou em 1990 o SAEB (Sistema de avaliação da educação básica), feita por amostragem (apenas alguns alunos) de 5° e 9° ano do ensino fundamental e 3° ano do ensino médio, tanto na rede pública quanto particular.As informações de desempenho na prova Brasil ou SAEB + o rendimento escolar dos alunos (taxa de aprovação) = resulta na nota do IDEB (Índice de desenvolvimento da educação básica) que tem como objetivo entender como está o ensino em todo o país.
Alguns estados tem seus próprios meios de avaliações, como o SARESP (Sistema de avaliação do rendimento escolar do estado de São Paulo), aplicada aos ensino fundamental e médio, para entender como está o aprendizado dos alunos de suas redes de ensino.
Além dessas avaliações, o Brasil também participa de uma avaliação mundial, o PISA (Programa internacional de avaliação de alunos). Essa avaliação é feita através de um sorteio e por amostragem, alunos que estejam concluindo o 5° ano, aplicada em vários países a cada 3 anos. Tendo um impacto muito pequeno aqui no Brasil.Pois há um debate grande em relação a essas avaliações, visto que se o aluno não sabe é preciso explicar o porquê ele não sabe e que políticas serão desencadeadas para que as próximas gerações aprendam.
Quando se reprova um aluno sem criar meios e estratégias para que esse resultado seja "tratado", estamos condenando esse aluno ao fracasso, e mais, fazendo com que ele acredite ser o único responsável dessa condição. Quando na verdade é todo um sistema que precisa ser reavaliado.
Diferença entre exame e avaliação
Entrevistado: Prof.º Cipriano Luckesi
O exame (exemplo - Vestibular) e suas características
▪ pontual: o que importa é o que o agora, no momento do exame, sem levar em conta o antes ou o depois. Mesmo que o aluno tenha sido bem sucedido em sua aprendizagem anterior ou que possa vir bem sucedido futuramente, a reprovação no exame é criterioso, não existe antes nem depois. Aqui se diz: "você não sabe. E ponto";
▪ classificatório: classificam em aprova ou reprovado, de 0 à 10 e assim por diante. Classifica o aluno definitivamente. O aluno fica "preso" a uma classificação;
▪ seletivo: ele seleciona as pessoas entre "os melhores" e os "piores." Como exemplo no vestibular, existem X número de vagas para Y número de inscritos, as vagas sendo menores que os inscritos, será necessário fazer a seleção, ou seja, a grande maioria será excluída;
A avaliação e suas características
▪ não é pontual: a avaliação leva em conta o antes, o agora e o depois (em relação a aprendizagem e conhecimento). Aqui se diz "você ainda não sabe", mas pode vir a saber se houver um trabalho educativo para isso;
▪ dinâmica: a avaliação diagnostica o que está ocorrendo para que haja a possibilidade de uma melhoria. Sendo assim toda avaliação deveria ser mediadora, dialética, formativa, diagnóstica, pois essa é a função da avaliação, independente do adjetivo a ela imposto;
▪ includente: ela é inclusiva, ela traz o aluno para dentro e não o exclui. Aqui há uma preocupação em ajudar o aluno para um melhor desempenho futuro.
Fórum temático
"Acredito que a avaliação seja de fato um importante instrumento para educação, em particular para os professores, que tem a finalidade inicial de mensurar o conhecimento atingido pelo seu aluno e como está sendo o seu trabalho (sua didática) como docente. Porém ela precisa ir muito além disto, uma vez avaliado o que o aluno conseguiu aprender ou não, é necessário que estratégias sejam feitas para que esse mesmo aluno tenha a possibilidade de absorver com mais propriedade o ensino proposto e aplicado como também superar esse resultado que até então tinha sido insatisfatório.
Em minha experiências como aluno sendo avaliado tive poucas experiências negativas em relação a resultados de avaliações, digo no sentido diagnóstico da avaliação e não classificatório ou seletivo, como algumas avaliações se propõem fazer.
De maneira geral sempre contribuíram para meu aprendizado mesmo quando não atingia a pontuação máxima desejada, pois isso me fazia rever onde e como melhorar minha aprendizagem, tendo como resultado o conhecimento, e não uma nota meramente classificatória."
(Demétrius Pecoraro)
6. Desafios contemporâneos da profissão docente
O desafio na aprendizagem
Entrevistados: Prof.º Antônio Nóvoa (Portugal)
Esse desafio é o mesmo desde 2011, quando Nóvoa afirma que a aprendizagem deve ser para todos, inclusiva e para tal, deve ser diferenciada. É preciso uma nova organização escolar, na forma de lecionar muito conhecida ainda nos dias de hoje, e uma nova forma de trabalhar dos professores. Esse continua sendo o maior desafio.
Em Portugal o grande diferencial atualmente na área da educação é o avanço dos recursos tecnológicos, que vem auxiliando as formas de ensinar. Devido a relação que os alunos têm por meio da tecnologia. Sempre lembrando que nada substitui a mudança pedagógica, que é importante e desafiadora.
A escola precisa se libertar dos modelos tradicionais de se dar aulas, criando uma forma diversificada de lecionar para diferentes tipos de alunos.
A escola não pode cumprir todas as missões sociais e culturais, ela não dará conta de todas essas vertentes. Porém não se deve negar que temas como prevenção das drogas, preconceito e outros mais polêmicos estão presentes na escola, mas seria interessante haver outros espaços em parceria com a escola para tais ações, como dizia Paulo Freire, "cidades educadoras", havendo assim uma responsabilidade social e não só escolar.
Existem responsabilidade que pertencem aos pais, políticos ou sociedade.É preciso também haver uma maior valorização do professor, em relação salarial como também planos de carreiras.
Quais são os maiores desafios colocados aos professores em seu ofício de ensinar hoje? (fórum temático)
"Em relação ao tema proposto nas aulas dessa semana e os textos sugeridos, acredito que o maior desafio dos professores hoje em dia é reconhecer de fato estar ou ter escolhido a profissão certa, ou seja, de docente. Tendo isso bem definido para que não seja transferido todo e qualquer obstáculo em relação a educação para terceiros, quando possivelmente o "desafio" maior possa ser o próprio professor.
Ao que se refere aos verdadeiros desafios contemporâneos no ato de ensinar acredito que a era digital, mesmo que saibamos de todos suas contribuições e benefícios para o processo de ensino e aprendizagem, tem feito com que os professores "corram atrás do prejuízo" quando o assunto é transmitir ou esclarecer conhecimentos. Pois muitas das vezes os alunos já chegam em sala de aula trazendo um pré conhecimento antes mesmo de sua exposição e aplicabilidade em aula. Tem também e muito a falta de interesse de muitos alunos, a negligência por parte de alguns pais que não fazem parte das atividades escolares de seus filhos, afim de criar um elo entre o que se aprende na escola e o que se traz de casa. É triste mas há também o desinteresse de alguns professores quando muitos dizem não acreditar mais em seu papel como educador, fazendo com que as demais gerações deixem de acreditar e reconhecer quão grande e importante é a arte de ensinar, quando bem qualificada e valorizada.
Os conteúdos pedagógicos precisam ser revistos, não mudados ou banidos, pois muito já se ensinou com qualidade e eficácia através dele e puderam formar cidadãos com senso crítico e capacidade de escolhas, assim como eu e você. Os conteúdos precisam ser revistos para que além de transmitirem o essencial, que é o conhecimento, traga também o interesse e o fascínio do aluno pelas disciplinas estudadas.
E hoje como grande desafio da profissão como professor é a violência que tem se instalado dentro das salas de aulas por todos país, é grave e preocupante, porém a solução é muito complexa visto que se trata de uma problema social e falha por parte dos pais em uma responsabilidade que lhes compete, ensinar valores, respeito e EDUCAÇÃO a seus filhos.
Mas uma coisa é fato, apesar de todo e qualquer desafio que ainda precise ser vencido no campo da educação para que ela melhore cada dia mais, o primeiro que não pode desanimar ou sucumbir ao "sacerdócio" do ato de ensinar são os professores, pois ainda somos e sempre seremos o pilar da educação de uma nação!"
(Demétrius Pecoraro)
Por uma nova didática
O objetivo da Didática, quando do seu surgimento no século XVI, era a reflexão e o trabalho com um conjunto de práticas para educação de crianças e jovens. A obra Didática Magna, de Comenius, foi pioneira neste sentido, pois tinha a intenção de organizar o conjunto de saberes para orientar o ensino de todas as coisas a todos, por meio da escola. Posteriormente, as ideias de Rousseau também contribuíram para a área: segundo ele, é necessário conhecer os alunos para ensiná-los. Já no século XX, outros fatores foram acrescentados a esse debate: apregoou-se também a necessidade de conhecer a escola e a sala de aula.
Deste momento para a frente, duas grandes correntes didáticas ficaram delimitadas: a tradicional, segundo a qual a aprendizagem é como introjeção de conhecimentos e valores resultantes da memorização da criança; e uma outra didática, com ênfase na aprendizagem, na qual professor é orientador da aprendizagem e deve, além de orientar e transmitir, considerar os vínculos sociais, aprender sobre os alunos e criar novas estratégias particulares para sua realidade.